sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Comunidade

Vou usar dois sentidos da palavra, e começo com o mais restrito...
A comunidade druídica, no Brasil e no mundo, é uma obra em construção que está agora em fase de expansão e consolidação: quem esteve no recente II Encontro Brasileiro de Druidismo e Reconstrucionismo Celta, em São Paulo, pôde sentir que a semente lançada no I EBDRC (Florianópolis, 2010) cresce viva e vigorosa, já podemos nos chamar de "comunidade" e já oferecemos terreno fértil onde todos, dos novatos aos veteranos, podemos crescer e nos apoiar mutuamente em fraternidade e alegria.
Mas há a comunidade mais ampla, onde estamos inseridos quer o queiramos ou não: bairro, cidade, estado, país; trabalho, escola, serviços; família, amigos, vizinhos...às vezes é bom pararmos para fazer a pergunta: no que o meu caminho druídico beneficia a(s) minha(s) comunidade(s)?
É fácil ser Druida no meio de nossos pares, onde todos falamos a mesma língua e partilhamos de uma visão de mundo comum -- o desafio é fazer o mesmo, dia após dia, entre as outras pessoas da nossa vida que não sabem e nem entendem que raio de coisa é isso de Druidismo, ou que podem até ser hostis a ele.
Sabemos que os Druidas originais eram parte inseparável da sociedade Celta e serviam a ela com sua sabedoria e orientação: naquele tempo, a visão da pessoa usando o manto branco nas trilhas das aldeias despertava o respeito e a admiração do povo, que podia não saber direito o que é que ele fazia mas sabia que sua vida era beneficiária direta das ações do indivíduo do manto branco.
Nós ficamos numa posição mais difícil que nossos antecessores, pois não temos nem a autoridade e nem o respeito de que desfrutavam, mas no fundo da alma bem sabemos que a velha responsabilidade com o povo permanece intacta, e a questão de como exercê-la sempre surge diante de nós...
"Sair do armário" é uma decisão difícil, que nenhuma pessoa pode fazer pela outra, e que depende de quem sai, quando sai, e para quem ou diante de quem sai -- e muitas vezes os riscos implicados tornam o segredo a opção mais viável.
Mas mesmo sem assumir publicamente que seguimos o caminho druídico, ainda assim um fator pesa: é verdade que, pela infinita diversidade de linhas no caminho, ninguém pode falar publicamente em nome de todo o Druidismo, mas ainda assim cada um de nós o representa diante dos outros, e nossas ações se refletem nele, como a virtude Céltica da Integridade lembra; se você criou a reputação entre seus colegas de ser honesto, sempre ajuda os outros, nunca se mete em brigas ou fofocas, às vezes fala disso de ecologia, se um dia o seu Druidismo se tornar público eles dirão: "Ah, Fulano é Druida?...bom, se ele é, esse negócio não deve ser tão mau assim"
Os outros não vão saber do Druidismo nem mais e nem menos do que aquilo que a nossa conduta pessoal mostrar, e é pelo exemplo quieto que mais podemos beneficiá-los: uma ajuda ali, uma palavra ponderada aqui, uma invocação silenciosa num momento de Inspiração, em todos esses atos o espírito druídico da reciprocidade e da interconectividade se manifesta e neles cumprimos nosso dever com a comunidade a que servimos, mesmo que em segredo...

Bendita a Comunidade dos que Sabem
Bendita a Comunidade dos que ignoram
Bendito o dever que move os Sábios
a servir aos outros em Silêncio

Um comentário:

Marcelo Willian disse...

meu caro...ainda nos dias de hj, falar que tua religião é o druidismo causa, no mínimo , uma visualização de "poker faces" seguidos de "o que é isto?!"...e sim, quanto mais estranheza causa isto quando eu falo, mais eu falo e (tento) explicar o que é o druidismo...adorei o texto, endovelico!somente saindo do armário das vassouras, como os wiccanos gostam de falar, é que teremos o respeito que merecemos!