terça-feira, 29 de novembro de 2011

Inspiração

Mais uma definiçâo do Druidismo: o caminho da busca da Inspiração...
Esse é um tema caro aos Druidas, antigos e modernos -- a Inspiração, que os Galeses chamam de Awen, o Espírito Fluente, e os Irlandeses de Imbas, visto como o Fogo-na-Água, e que, como suas imagens e metáforas dão a entender, reúne em si opostos aparentemente irreconciliáveis e forma com eles algo diferente e maior que a soma de ambos.
Philip Carr-Gomm escreve em The Druid Way que uma diferença entre o Druidismo e a Wicca é que esta tem como tema mágico central a união das polaridades Deusa/Deus, Lua/Sol (conforme simbolizado no Grande Rito), enquanto aquele enfatiza mais o fruto da energia gerada nessa união (às vezes simbolizado pelo Mabon, a Criança Divina), que é a Criatividade em todas as suas formas.
Há quem favoreça uma abordagem mais "quietista" da Inspiração, preferindo sentar em silêncio e esvaziar a mente à sua espera; mas parece que métodos mais ativos são possíveis.
Erynn Rowan Laurie, poetisa/Fíli e uma das fundadoras do Reconstrucionismo Celta, traduziu do Irlandês o poema do século VI "O Caldeirão da Poesia", supostamente atribuIdo ao lendário poeta-Druida Amergin, que descreve um sistema de três caldeirôes no organismo psicofIsico humano bastante similar aos chakras Indianos, e cuja ativação permite acessar e recolher em si o fluxo da Inspiraçâo -- aparentemente a ativação implica tanto em respiração rítmica quanto num trabalho quase alquímico de processamento e transmutação de duas emoçôes fundamentais, a tristeza e a alegria.
Por outro lado, talvez seja bom lembrar que a Inspiraçâo não é necessariamente um estado etéreo e contemplativo: o que Amergin descreveu em sua Canção como o "fogo-na-cabeça" e que um cronista medieval em visita ao País de Gales chamou de "furor visionário" deve ser abordado com certo cuidado -- não é à toa que a poçâo do caldeirão de Ceridwen queima o dedo de Gwion Bach e seus restos envenenam o riacho quando o caldeirão estoura!
O que estou fazendo ao escrever os 30 Dias é fruto da Inspiração no seu melhor: assim como todos os que participaram do II Encontro Brasileiro de Druidismo e Reconstrucionismo Celta, entre 12 e 14 de Novembro deste ano, como consequência das energias circulantes no evento fui "fecundado" pela Inspiração e ela flui sem cessar: estou escrevendo estes textos a todo e qualquer momento mais tranquilo, as palavras escorrem de meus dedos para o teclado, e acho que se deixasse o processo correr desimpedido acabaria escrevendo todos os 30 textos em menos de 10 dias sem dificuldade alguma...
E talvez devesse deixar claro que a Inspiração não pressupõe apenas obras de arte: um Druida pode ser escritor, cozinheiro, psicoterapeuta, músico, advogado, tanto faz -- a Inspiração se manifesta a cada um com aquilo que mais necessite e sempre dá frutos na vida de quem a receba.

Bendita a Inspiração sempre-fluente
Benditos os que se abrem a seu fluxo
Benditos os frutos da sagrada uniâo
entre o Fogo e a Água

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